quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Ansiedade...

Ouvi uma mãe falando: - Eu aviso meu filho de que vamos passear somente no dia do passeio, senão ele não me deixa sossegada até chegar o sábado, que é quando geralmente fazemos os passeios. Ele é ansioso demais!

Interessante pensamento da mãe, poupando seu filho da ansiedade de um passeio de menos de uma semana. Ao fazê-lo, a mãe deixa de propiciar ao seu filho instrumentos de enfrentamento de ansiedades futuras e que não resistirão a um período ainda inferior ao de sete dias.

Joseph Campbel diz que rituais são importantes para a passagem da criança para adolescência e para a fase adulta. A criança é obrigada a aguardar esse ritual de passagem e com isso ela própria lida com a sua ansiedade do seu modo.

Na atual sociedade, onde os cuidadores necessitam trabalhar fica a culpa de uma menor qualidade de criação de seus próprios filhos. Em muitos casos essa culpa é "atenuada" com o consumismo, quando os pais oferecem aos seus filhos como compensação toda sorte de brinquedos que o dinheiro pode comprar.

Quando cresce, essa criança se torna neurótica, e busca refugio em situações que lhes tragam o prazer imediato perdido por uma situação estressante, eis o caminho das pedras.




terça-feira, 3 de dezembro de 2013

 Bater ou Apanhar?

Hoje eu me dou conta que estamos no fim do ano, e começa a me bater um sentimento de saudade em relação aos meus pais, minha irmã, meu sobrinho, talvez preenchendo um vazio causado pela falta de filhos próprios.
Começo a lembrar da minha jornada de trabalho no Japão, e meu retorno pela primeira vez, que encontra em meu sobrinho com cerca de 5 anos de idade, alvo de toda a sua curiosidade de conhecer o Tio do Japão, que ele nem sabia ao menos o nome.
A falta de cerimônia desse menino, contrasta com a educação severa que eu tive dos meus pais, e encontra na atitude de minha mãe um acolhimento que me deixou enciumado: "EU NÃO FUI CRIADO ASSIM!"

Lembro-me de um fato ocorrido e que me traz ainda mais saudades desse menino de 5 anos de idade. Na ocasião ainda sem a formação de psicólogo, recém chegado do convívio com operários de uma fundição, um tanto "contaminado" com a falta de educação de uns, excesso de intimidade de outros, e um país ainda totalmente desconhecido para qualquer pessoa que o visite. Que o pequeno insolente querendo entrar no banheiro enquanto eu tomava o meu banho, chutava a porta e gritava repetidamente: "Seu boca-aberta!" diante da impassividade da minha mãe, da falta de ação de meu pai e  da neutralidade de minha irmã.

Incrédulo de que isso estivesse acontecendo, e pior, que minha mãe estivesse ouvindo tudo aquilo e não estivesse fazendo nada. Enxuguei-me silenciosamente, e ainda sob os gritos incessantes do pequeno, surpreendi-o com a abertura súbita da porta, um gesto rápido garantia a posse de seu braço através da minha mão esquerda, enquanto minha mão direita avança rapidamente para um certeiro tapa em seu traseiro. Rapidamente carrego o pentelho até o sofá e o coloco de castigo. 
O choro é alto, os berros mais altos do que os gritos na porta do banheiro, porém cessa em instantes amortecidos por um sono que o tornara inconveniente. Os olhares de surpresa de minha mãe, e de revolta de minha irmã são calados diante do meu olhar severo de critica lançado à ambas.

Anos mais tarde, numa suposta terapia de regressão, o Terapeuta me coloca na idade regressiva de 10... 9... 8... 7... 6.... 5!!! Um choro contido explode em soluços convulsivos que quase não encontram espaços para permitir a respiração.
Balbucio alguma coisa ainda inaudível, incompreensível entremeios a tantos soluços e gritos de revolta, até que finalmente a frase de completa: ELE NÃO PODIA TER FEITO AQUILO!... ELE NÃO TINHA O DIREITO!

"Ele" era o meu pai, que me lascou um tapa no rosto quando eu tinha 5 anos de idade. Motivo? Um palavrão aprendido na rua, e que nem o significado eu entendia direito: BUCETA. 

Ao chegar em casa naquela tarde, eu que vivia na rua, num campo baldio do lado da casa vizinha à minha, revelei que tinha aprendido de um menino, com a orientação de que eu não contasse para a minha mãe. Muito esperta, ela manda que eu fale para o meu pai. Corri para falar ao pé do ouvido, secretando algo secreto que somente seres iguais poderiam compartilhar: "O QUE A MULHER TEM NO MEIO DAS PERNAS É BUCETA!". Não lembro nem de ter chegado ao final da frase, o tapão veio certeiro, rápido, creio que mais rápido do que o meu golpe no traseiro do meu sobrinho. 

Bert Hellinger, descobridor da Constelação Familiar poderia dizer que ninguém dá aquilo que não tem. O tapa do meu pai, foi um tapa de educação, de amor. Ele não sabia fazer diferente.

Maria Tereza Maldonado diz em seu livro: "Cá entre nós" que educar dá trabalho, e que é contraditório você bater para ensinar seu filho alguma coisa.

Muitos pais se irritam com a insolência de seus filhos, assim como eu me irritei com a insolência de meu sobrinho. Assim como eu não sabia o significado de "BUCETA" ele não sabia o significado de "BOCA ABERTA", Mas a experiência falou mais alto. 

Quando a experiência é frustrada, podemos encontrar crianças que sentem tanto prazer no domínio de seus pais, que suportam a dor, e ainda provocam: "NÃO DOEU!"

Outros pais não admitem que outras pessoas batam em seus filhos "para educa-los" mas eles mesmo podem, como se fosse dever e prazer somente reservados a eles próprios: "BABÁ NÃO PODE BATER, SOMENTE EU SEI A MEDIDA CERTA."

Quanto mais penso, mais dou razão ao ditado: QUEM APRENDE APANHANDO, ENSINA BATENDO...